Tal como um qualquer fanático por OVNIS ou por milagres religiosos de estranhas proporções, quero-vos relatar um fenómeno que se abateu sobre um estranho universo subterrâneo, falamos claro do Underground Português, que possui a propensão para acontecimentos paranormais diversos.
Poderiam pensar, se calhar, que vos falo de pastores drunfados, santas que dançam o malhão em Oliveiras ou até mesmo de “discos voadores de metal com sapatas” que várias senhoras idosas avistam na Serra da Gardunha; nada disso meus caros, o fenómeno tem nome, discos editados (que não são de metal anote-se), preocupações identitárias, uma orientação espiritual estranhamente definida e uma seita de seguidores mais ou menos numerosa.
Legenda: Um avistamento de dois seres do fenómeno acima referido. Começemos pela primeira audição que fiz, o álbum chama-se: Ecos dos Dólmens Esquecidos e confesso que a mensagem subliminar até que está bem construída; objectos fálicos que propagam eco... O Ron Jeremy iria adorar saber disto. Pena que o álbum só tenha um bom título, porque os restantes nomes dos respectivos temas são verdadeiras pérolas na língua de Camões. O resto meus amigos, são 48 minutos de guitarras mal tocadas, flautas, um orgão Casio dos 300 e vocais vindas do cu. Mas as opiniões divergem, como seria de esperar, destaco dois excertos do estimado colega de profissão joaonvno2009 que asserta: - “Os Cripta Oculta praticam um Black Metal muito agressivo e selvagem com algum Folk à mistura, com a presença de uma flauta nalgumas partes das músicas.”
e ainda
- “Lágrimas Da Europa é a última faixa: lenta, triste e com uma voz que ecoa como numa floresta negra numa noite de lua cheia, acompanhada por umas guitarras distorcidas. “
Agradeço desde já ao poder de audição aguçadíssimo do joaonvno2009, pois sem ele, acho que nunca iria perceber que existem flautas no álbum, e já agora, um elogio, ao espantoso cenário projectado da “noite de lua cheia” que me suscitou uma estranha vontade de ir a correr até Monsanto e apreciar a lua cheia ao lado das meninas que lá estão a uivar por motivos de ordem vária.
A quem ainda clame que o fenómeno é dos mais encantatórios e assombrosos dos últimos tempos, como constata, com grande imparcialidade note-se, o site blackmetal-lusitania. Sobre o álbum Sangue do novo amanhecer dizem:
- “Os Cripta Oculta são um dos grupos mais interessantes saídos do Black Metal Lusitano e já por cá andam desde 2004. Sendo que, só mais recentemente passaram a ter mais visibilidade entre a legião de corações mais negros.”
prosseguindo ainda nos dizem que,
- “Não somos de todo um país muito prolífero neste tipo de projectos de Black Metal orientados para o elogio da nossa ancestralidade, ficando sempre um pouco à sombra do que é feito no estrangeiro.”
e para finalizar acrescenta,
- “...este álbum enche-me de orgulho e faz-me acreditar que, perante este deserto de ideias, ainda há quem lute com fulgor e consiga manter uma identidade.”
Mais uma vez o espanto é vigente nesta crítica. Os “corações mais negros” palpitaram e encheram-se de orgulho Lusitano, Viriato, com toda a certeza, iria ouvir e divulgar o vosso trabalho se arranjasse um tempinho livre, pois como se sabe o pastoreio e as lutas com Romanos não deixam muito tempo livre, para a devida apreciação de obras deste calibre e o facto de o mesmo estar morto também não ajuda.
Gostaria ainda de destacar nesta crítica, o “elogio da nossa ancestralidade” feito através de um género musical criado no ínicio dos anos 90 na Escandinávia e que torna fértil o “deserto de ideias” que é o nosso país, eu a pensar que estes tributos se faziam com adufes, tambores, e trombetas no programa Portugal no Coração e não com uma ideia importada da Noruega e arredores - ao que parece estou errado, mea culpa.
Legenda: Um dos mentores de Cripta Oculta a usar um bomber jacket em alternativa ao tradicional traje de peles Lusitano.
A identidade da banda permaneceu um mistério durante algum tempo, mas depois uma merda chamada metal-archives.com veio arruinar a aura de mistério e como se não bastasse uma outra foda chamada last.fm. E com o sucedido, a “legião de corações mais negros” pode saber mais sobre esta banda tão segredada e oculta no país que não é “prolífero neste tipo de projectos” e assim disseminar a seu trabalho como se de uma esporradela se tratasse. Aliado a estes factos, existem editoras de Black Metal em Portugal com um apetite voraz por cagadas deste género, citando um exemplo muito rápido, ocorre-me a Bubonic, que como se sabe adora estes secretismos e esoterismos do cu.
Fomentada e patrocinada a histeria colectiva pela banda, é normal que um pseudo-culto surga em torno da mesma, e mesmo que não entendam um caralho do que se está a passar, todos querem uma dentadinha, ou seja, umas das 100 ou 50 cópias dos cabalísticos e ultra inovadores trabalhos da banda - tome-se como exemplo, a soberba e inovadora Demo Ode ao Metal em que encontramos temas estonteantes como Guerreiros da Morte e logo de seguida levamos com uma cover de Black Sabbath só para não nos armarmos em parvos e sentirmos o amor ao Metal.
E para findar esta comunicação, quero-vos apenas dizer, que tenho um pressentimento que estas beats pagãs low-cost dos Cripta Oculta não vão ficar por aqui, até porque, pelo que sei, deram um concerto recentemente na qual a congregação da “legião de corações mais negros” foi possível. Ninguém está a salvo, e só se os forçarmos a ir a catequesse ou a baptizarem-se é que nos podemos salvar das garras destes pagãos sequiosos de retaliação.
O professor Bambo recomenda moderação aquando a audição de Cripta Oculta.